QUANDO O POLICIAL PENSA

QUANDO O POLICIAL PENSA

@professorjoaoalexandre



     Quando o policial pensa, passa a compreender mais plenamente a opção profissional que fez e a saber detalhadamente dos riscos que o aguarda todos os dias quando sai de seu lar para executar o seu valoroso trabalho de defesa da sociedade. Assim passará a atuar com extrema cautela em tudo o que fizer.

     Quando o policial pensa, passa a compreender que aquilo que o Estado ideologicamente o convenceu tratar-se de sua missão "servir e proteger", será executada pelos ditames da rígida norma policial. Também engloba um juramento que não é exigido de nenhuma categoria de servidores públicos e que exigirá publicamente "sacrifício da própria vida". Assim, começa a compreender que integra um tipo de serviço público por demais especial, periculoso ao extremo, diferenciado em suas práticas e que para ser devidamente executado, requer remuneração melhor, escalas humanizadas, equipamentos adequados, legislações garantidoras, técnicas, táticas e procedimentos específicos. Tomará a consciência, que não podem em nenhum momento, ser igualados aos demais servidores públicos "comuns", pois não cabe aqi a isonomia nem nos deveres quanto nos riscos. Passa então a se identificar como um recurso humano estratéico de extremo valor para o sistema da segurança pública.




     Quando o policial pensa, passa a compreender que o Estado deve lhe dar todas as condições para que possa desempenhar bem o seu papel, inclusive trata-lo como pessoa humana e sujeito de direitos muitos específicos. Saberá requerer e também a se organizar como categoria técnica e profissional, passando a lutar organizadamente também por ampliação de seus direitos.

     Quando o policial pensa, passa a compreender que seus regulamentos não permitem que ele se enxergue como "trabalhador" sendo considerado apenas uma "peça" substituível a qualquer momento. Verificará que para o Estado é só mais um registro estatístico e nada mais. Cairá imediatamente em si de que precisa por meios próprios, se precaver não mais só contra os perigos externos de sua profissão, mas também contra os atos sorrateiros e malignos da própria administração pública.




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     Quando o policial pensa, passa a compreender, que a sua conduta profissional deve ser pautada pela extrema legalidade, pois o Estado que estabelece metas, rígidas cobranças e promete politicamente proporcionar uma segurança que não consegue alcançar; é o mesmo que induz a erro a população fazendo-a acreditar que os efeitos da criminalidade estão diretamente ligados a ineficiência exclusiva das polícias. Entenderá que o Estado Leviatã, o transformará em uma "máquina de fabricar soluções improvisadas" proporcionando respostas precárias aos problemas os quais nem são de competência policial.  Terá então a certeza, que a falha do Estado é escondida, maquiada e atende a propósitos indecifráveis mas seu erro, esse sim será punido de imediato sendo, pela via jurídica rápida e idenfensável, colocado para a rua sem a mínima condição de dignidade.




     Quando o policial pensa, passa a compreender, que o super herói criado em sua cabeça quando desejou ser policial ou foi indevidamente enxertado através de uma formação deficitária, ele não existe. Saberá que "peito" a prova de balas, anéis mágicos, campo de força, capa da invisibilidade, carro que voa e mergulha, são coisas dos filmes e das revisas infantis. Verificará que sangra, sofre e morre como qualquer outro a que venha a enfrentar ou proteger; afinal é também humano, com todos os problemas que um humano possui.



     Quando o policial pensa, passa a ter certeza que o discurso não condiz com o cenário da vida real e que algo não está certo. Notará rapidamente que o mesmo Estado que cobra com rigor a aplicação da lei (contra uma minoria) é  o mesmo que promove e alimenta o encarceramento em massa, não distribui corretamente a renda, cria bolsões de misérias, promove descaradamente a desigualdade, não investe em politicas públicas, discrimina, deseduca, não emprega, saqueia o cidadão com altas taxas e impostos sendo o maior de todos os violadores e principal responsável pelos índices criminais que tenta maquiar ou fingir que não existem. É o Estado que se associou ao crime organizado e que tenta por todo modo, achar uma fórmula de manter solto qem deveria estar preso.




     Quando o policial pensa, verifica com seus próprios olhos que em sua volta, há inúmeros famintos, desesperançados, carentes, desnutridos, desvalidos, violentos, desempregados, dependentes de toda ordem, corruptos, ladrões, guetos para pobres e também para ricos, fartura e miséria, morte e vida e que muitos deles dependem da polícia em seus momentos de dificuldades ainda maiores, dai a necessidade de ser humano, justo, legalista e aplicador da lei ao caso concreto. 


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     Quando o policial pensa, ele compreende que aquela sociedade que ele jurou defender com o sacrifício de sua própria vida, sequer o valoriza, colabora com seus serviços. Verificará que como policial, pouco pode fazer pelo muito que é solicitado, restando apenas a ingratidão como moeda e recompensa.

     Quando o policial pensa, ele compreende de uma forma inquestionável, que não pode se tornar um matador, um paladino autônomo da justiça, um super herói, um Rambo, Robocop ou Superman, verificando na prática que sua missão cotidiana, se resume a mediar como possível os conflitos sociais, promover como puder a dignidade da pessoa humana, encarregar-se de aplicar a lei da forma mais isonômica possível e tentar fazer com que a vida de cada cidadão seja a menos sofrível possível.


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     Quando o policial pensa, ele compreende, que ao voltar para sua casa, e abraçar carinhosamente a sua esposa e seus filhos, tendo a consciência de que ele mesmo sobreviveu a mais um dia nesta perigosa selva chamada de sociedade. Agora, com a ampliada visão que possui, notará que a solução dos problemas estão muito além do que simplesmente aplicar a força, entendendo que as reais mudanças, não passam necessariamente pelo cano de uma arma, da justiça autônoma ou do extermínio em nome de um conceito jurídico abstrato conhecido dotrinariamente por lei e ordem.


     Quando o policial pensa, finalmente compreenderá que todos estamos no mesmo barco, apenas com responsabilidades diferentes, mas vítimas do mesmo poder dominante que a todos utiliza como simples ingredientes de seus escusos interesses dentro de uma poderosa e perversa máquina de destruir sonhos e possibilidades.




























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